O protagonista/narrador, ainda jovem, na faixa dos 20 anos, numa caminhada pelas areias do mar, conhece Bruce, que lhe pergunta a localização da Praia Breve e de determinado teatro. O protagonista, que já quer ser ator, trava imediatamente amizade com o estranho (filho de pai americano e mãe brasileira ou vice-versa) e logo estão encenando um espetáculo juntos.
O narrador errante faz, então, carreira como ator e segue vagando pela vida. Um dia, anos depois, leva Bruce por uma trilha e em determinado espaço alagado, como que num ritual, se enche de lama, encenando pra sabe-se lá que deus. Bruce o leva pra casa e o ajuda a se lavar. E então o narrador desaparece daquele cenário.
O narrador errante faz, então, carreira como ator e segue vagando pela vida. Um dia, anos depois, leva Bruce por uma trilha e em determinado espaço alagado, como que num ritual, se enche de lama, encenando pra sabe-se lá que deus. Bruce o leva pra casa e o ajuda a se lavar. E então o narrador desaparece daquele cenário.
Ainda errando, arruma emprego no escritório de um representante comercial de uma firma de enlatados. Bate à máquina contas comerciais, casa-se com a sobrinha do patrão, não consegue ter filhos (o espermograma revela friamente o problema). O patrão morre e no enterro o narrador errante percebe que, além do emprego, perdeu a mulher, que desaparece com um garoto muito mais jovem.
Desnorteado ainda e sempre, o protagonista sem nome, passado e características físicas definidas vai parar num asilo de mendicidade. Passa anos ali, em meio a asilados mais velhos, e uma das distrações dessa fase é fazer contações de histórias aos colegas quinzenalmente após os jantares. Até que reencontra Cris, agora adolescente, que vai parar naquele asilo. Ela não se lembra dele. Ele sim se lembra dela. A conheceu numa noite de aventura que se iniciou no camarim de um teatro e desembocou no quarto de hotel da atriz principal, que tinha uma filha bebê, justamente a adolescente recém chegada ao asilo.
Agora estão ali e um sopro de vida e criatividade o faz querer fazer de Cris uma atriz. Fogem do abrigo e vão parar na casa de Bruce, que os acolhe. Montam a peça, ganham dinheiro, Cris vai morar com o namorado e o narrador vai morar num apê e deixa a casa de Bruce. Dentro do apê há um garoto surdo-mudo que leva o protagonista a um prédio roto e úmido. Quando toca a campainha do lugar, quem sai é Pedro Harmada, fundador da cidade de Harmada séculos atrás. E o resto é um ponto final. Mas o que vale mesmo é a percorrida, mais que a chegada.
Definitivamente o que foi lido acima não é o que se lerá em Harmada. A narrativa dessa obra magistral de Noll não se desenvolve assim, cronologicamente. Esse é só um arcabouço lógico e histórico que criei, juntando as partes espalhadas pelas páginas para que quando me perguntarem do que se trata esse livro que tanto gostei e de que tanto falo eu tenha algo a dizer.
No livro, a história se desenvolve fora de ordem. O protagonista errante vai narrando fatos de sua vida sem compromisso com a sequência histórica ou com a finalização do relato. Ele sai de determinada situação ocorrida em determinado espaço de tempo para outra situação ocorrida no passado ou no futuro muitas vezes sem terminar de contar 'satisfatoriamente' o relato anterior. Fica no leitor uma sensação de insuficiência, de incompletude, de fantasia, de embriaguez. Vale a pena viajar na obra de Noll. Não se sai ileso dessa viagem. Ficaremos perturbados, mas também deliciados.
Nenhum comentário:
Postar um comentário